Só resta agora uma mistura
incrédula
Minha ânsia e humor negro
Sem moedas nem cédulas
Mentes, mãos e minha boca
vermelha.
Idéias nojentas, toques
macios e palavras tingidas.
Fim de festa, gestos
confusos.
Sobrou apenas o resto de
feridas
Sentimentos dormindo num
papel amassado
Num beco depois da garrafa
vazia
Uma tontura solitária na
multidão tardia
Tudo tão confuso e nublado,
sem rima.
Uma melodia grita meu nome
Voz macia, redonda,
pornográfica.
Me acaricia na sua indecência
É o que resta da noite cheia
Uma esmola de ilusões
Amanhecer como agora?
Com vergonha do Sol e
preguiça do dia
Meu sorriso não vem, engulo
um soluço.
De choro ou
embriaguez?
Se me embriago, choro, se
choro me embriago.
Vou embora beijar minhas
mentiras
Ou fico até minha verdade chegar?
Se não há realidade, fico
aqui.
O gosto amargo do teu cheiro
Em minha boca o dia inteiro
Em volta de mim corpos
rastejam
Minha vista escurece, a mente
roda.
Você lava meus lábios com tua
saliva
O dia voou, e a noite voltou.
Só resta agora uma mistura
incrédula