segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Olhar de gato!

Quem nunca olhou um gato nos olhos e o amou profundamente não sabe o que é não ter segredo, ter a alma nua, não sabe a profundidade que esse olhar alcança, não sabe a sabedoria milenar que ele sustenta, não sabe a doçura, não entende o que é amar em silêncio, disfarçadamente, e mesmo assim amar incondicionalmente. Quem nunca olhou nos olhos de um gato é incompleto, quem nunca mergulhou na imensidão de suas pupilas dilatadas ou não, não sabe o que é deslumbrar toda a sabedoria do mundo. Quem nunca cruzou o olhar com o olhar de um gato não sabe a delícia de ser felino, tão livre, tão individual, personalidade tão marcante, e tão cheio de si. Os gatos não duvidam do amor que sentem, sabem exatamente o que o amor significa, mas ao contrário de nós, sabem que não há explicação pra algo tão sublime, então não explicam, não se desesperam na ânsia de demonstrar, não nos prendem, não nos cobram em excesso, simplesmente nos amam, incondicionalmente, e em silêncio. E só amam a quem merece o seu amor.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tears streaming down my face.

A gente quando cresce chora baixinho, nada daquele berreiro de criança, fica encabulado até para sofrer. A gente só volta a chorar alto depois de adulto quando perde alguém pra morte. No nascimento e na morte choramos alto. Ás vezes a dor nos faz chorar mais alto, mas aí vem a morfina e mata, sublimando a dor e fazendo dela uma piada, falsa que só, venenosa que só! E se decidíssemos pela dor, que ela viesse nua e pura com todas as suas artimanhas para nos subjugar, e se enfrentássemos-na mano a mano, só pra ver até onde aguentamos? Ela viria forte e a gente gritaria, choraria, soluçaria, até desmaiar, ao menos seria real, mas quem se habilita? Eu não, sou mais a morfina! Mas eu queria mesmo era um fone de boca, pra eu poder chorar a noite e soluçar sem ninguém perceber, assim como se pode ouvir sem ser notado, deveríamos poder chorar sem sermos notados.

" Talvez se tivesse lágrimas, poderia demonstrar tudo que sentia.
Pois as lágrimas deixam os olhos transparentes
Deixam os mais sinceros sentimentos aflorarem
Pegou um colírio pra pingar nos olhos
Mas matou aí a sinceridade das lágrimas"

terça-feira, 30 de agosto de 2011

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Eu falo é dessa dor que assola sem motivos, ou melhor, com motivos, mas motivo tão, tão, tão, não se sabe que tipo de motivo. Sei que fiquei, digo, estou triste, demais. Nenhum número pra ligar, uma coisa dentro, como se tivessem puxando uma corda pela minha boca, e nessa corda viesse grudado tudo que me é vital.
Uma certeza, uma dúvida, um talvez, uma vez tal que não sei, ouço essas músicas, leio essas coisas do Caio, sempre, e vejo esses filmes, porque a dor só é verdadeira quando você abre a ferida e deixa ela sangrar até que estanque, por que se é pra sentir angústia que seja a pior das angústias, que beire o suicídio, mas rezo pra que eu jamais tenha coragem de ir até o fim, como boa covarde. Mas se um dia eu tiver coragem, saibam que foi covardia, no fundo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Especismo e suas vítimas. Algozes de Uma Suposta Supremacia Racial!

Eu vejo tanta maldade no mundo. Maldade de todos os tipos, mas o que mais me machuca é o que fazemos com os animais. Especistas que somos, nos esquecemos que não somos mais do que um espécie na escala das espécies que conseguiu dominar as outras. Do alto de nosso privilégio de seres humanos impomos a eles crueldade inenarráveis, batemos, matamos, ateamos fogo, afogamos, chutamos, apedrejamos, envenenamos, atropelamos, abandonamos, sentimos dó mas nada fazemos para ajudar. São animais apenas. Fazemos vista grossa, enquanto eles apenas querem uma chance de viver dignamente, já que não pediram para nascer e não conseguem entender porque tanta coisa ruim lhes acontece, ora, eles fizeram alguma coisa má para merecer tudo isso? Passam frio, fome, dor, medo, são comercializados feito mercadorias, são adotados feito brinquedos e quando crescem demais são abandonados. Quando nasce um bebê humano e o médico diz que eles trazem doença, toxoplasmose, asma, alergias, eles são novamente abandonados, porque são apenas animais. São eles os detentores do mais puro amor, a mais pura lealdade e gratidão, não nos pedem nada em troca, nunca nos puxarão o tapete, nunca farão intrigas e nos roubarão, nunca matarão para roubar e sustentar vícios, eles só precisam de comida, água, carinho, um lugar quente onde dormir e do seu amor, eles querem que você brinque com eles, porque desde o minuto que você sai de casa pra trabalhar eles sofrerão aguardando seu retorno, então eles te cheirarão e pularão em você, te lamberão, tirarão toda a carga negativa do seu dia, irão transferir todo esse peso para seus corpinhos leais, e você paga com abandono, desdém, especismo.
Eles choram, eles sofrem, o olhar que eles sustentam é o mais triste que você pode imaginar, eles estão vendo os horrores do mundo assim como você, só que eles não conseguem entender o que está acontecendo, então se assustam enquanto você comemora o Reweillon, o Natal, o título do seu time, ou qualquer igreja ou santo idiota. Eles sofrem com os mendigos nas noites de frio, mas nem por isso levantam do lado de seu dono, ficam com ele até o fim. Ele sente seu cheiro a uma distância absurda, te diverte, te salva, embriaga seus dias de amor, e você paga com ódio ou omissão, porque você é humano. Está mais do que na hora de você aprender sobre lealdade, compreensão e amor na sua forma mais pura e completa.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bilhete.

Abrira a porta e entrara, sentara. E agora?

- Agora ligue a TV, oras.

Mas não quisera ver nada na T.V, então se deitara.
Sentia-se com aquela vontade de se espreguiçar que parecia nunca ser suficiente, as gengivas do siso estavam inchadas, e a garganta coçava e arranhava, apesar disso alguma coisa demente dentro de si implorava por um cigarro e alguma bebida inebriante.
Desejou sair pela rua sem rumo e o fez, mas a certa altura tomou consciência que nem andar sem rumo sabia, pois sempre se guiava pelo óbvio, olhava os carros pra atravessar, evitava ruas escuras e vazias, quase tomara o caminho de sua antiga casa, talvez pelo costume, pelo cheiro das pessoas que pode ter ficado no ar, ou pela morbidez e um desejo patético de reviver o passado.
Talvez então, se sentasse ali na guia e chorasse ou fixasse o olhar em algum ponto do asfalto quem sabe encontraria o que buscava, mas poderiam achar que enlouquecera, não que se importasse, nunca se importara, mas algum cão vadio poderia vir e mijar nele, não que não fosse digno de uma mijada nas barras da calça, e até seria agradável, algo quente, vivo e molhado como há muito não sentia, pra contrastar com aquele corpo ressecado e ressequido, aquele olhar frio e reto, feito tela plana de uma TV que só passa horário político, aquelas mãos crispadas que corriam ensandecidas pelo bolso que ainda não rasgara da mochila velha, sempre em busca de um cigarro, ou até mesmo uma ponta, que tivera que apagar pela chegada do ônibus, e então ao acender aquele resto parecia que seus olhos brilhavam, no entanto eram lágrimas, inexplicáveis lágrimas de uma última tragada cuja fumaça se iluminaria pela luz fraca e alaranjada do poste.
Algumas moedas e um passe de ônibus, vendeu o passe, e no mesmo bar pediu uma dose de conhaque e um copo de vinho, assim mesmo, sem nenhum requinte, sem entender nada de combinação ou paladares finos, queria era a desgraça da ressaca de sarjeta, a desgraça dos que sentem demais e tentam demais entender o que tanto sentem. Virou a dose de conhaque e fez uma careta, como se segurasse o vômito, sentiu aquele calor em suas entranhas, como se uma mão de lavas lhe acarinhasse as tripas, com sôfregas e violentas lambidas, diabólicas e voluptuosas, então lhe veio à mente.
Soube de repente que quando sentia o lábio dela em seus lábios era aquela mesma sensação, por isso buscara sentir aquilo de forma superficial, como um gole nojento de bebida gelada, mas que lhe ressuscitava a lembrança, a sensação, então lembrou-se palavra por palavra do poema que lhe havia feito quando ainda era humano, quando ainda sabia sentir, e escreveu-o num guardanapo do bar, que grudou no suor do copo de vinho e ali derreteu sozinho, bem como seu autor:

"Eu pareço saber que teus lábios e tua língua irão me queimar, mas busco desse fogo seja inverno, seja verão. De tanto que me queimam e me penetram as células, parecem amortecer, cada milímetro de pele minha, que molhada de minha e sua saliva, evapora, e chove de novo em forma dos teus dedos em meus cabelos. Te amo. "

Bebera mais umas doses, saíra do bar. Chovia, cambaleou um pouco até a praça onde passavam os ônibus, enfiou a mão no bolso, lembrou que vendeu o passe. Tanto faz, iria embora andando.

sábado, 23 de julho de 2011

Amy Winehouse

Uma pobre alma errante, que largava pedaços de si a cada passo. Uma menina de 27 anos agonizando em frente as câmeras sedentas dos paparazzi-máquinas que perseguiram na sem quaisquer resquícios de humanidade ou compaixão, eles apenas ansiavam pelo furo de reportagem. O furo era um par de olhos gritando em silêncio um desespero que não cabia em palavras, um rosto assustado com a vilania desse nosso mundo, uma ressaca de quem tentava anestesiar suas dores, seus receios, seus fracos como ser humano, não como super star. Ninguém via isso, queriam mais e mais ver suas fotos, sua linha de evolução no mundo das drogas. Os paparazzi e a imprensa sensacionalista e insaciável mataram a Amy, mas saiba que foi sua culpa. Sim, VOCÊ matou a Amy, toda vez que riu das fotos dela em estados deploráveis, toda vez que riu dela esquecendo as letras das músicas, toda vez que a vaiou, toda vez que deu ibope a esses assassinos midiáticos você os impulsionou a conseguir mais material e a sugá-la mais e mais, e você também matou Michael Jackson e muitos outros. Essa pobre rica garotinha era extremamente tímida, montava um personagem e tentava compartilhar com o mundo um pouco de sua genialidade, e o mundo lhe agradeceu com sua ânsia infinita de sangue novo, nós, vampiros de almas, sugamos mais uma. Extremamente sensível, como quase todo grande gênio, a frente de sua época, com uma voz que era como batida de frutas, continha pedacinhos de alma misturados a algo que embriagava, uma menina linda que ao não poder mais reagir ao grande monstro do guarda roupa buscou sublimação e a encontrou nas drogas, as drogas não a mataram só anestesiaram as feridas que você fez nela. Agora que você já a matou, você faz piadas, porque a morte de um semelhante se tornou motivo de piada é o que não consigo entender. Ela estava assustada com isso também, o ser humano deixou de sentir tudo que é bom, já não ama, não compreende, não aceita. Você matou o que a garotinha tinha de melhor a te oferecer, calou sua voz, suas palavras efervescentes, arrancou seu coração gentil, roubou o brilho dos seus olhos, arrancou em cada dente que ia embora, um pouco da verdade em seu sorriso. Amy se foi hoje, mas ela já estava morta há tempos. O mundo deixou de ser um lugar para seres humanos, se você sente, você é fraco, aqui só tem lugar para os tratores sociais. Parabéns pessoas ruins.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

What a Wonderful World II

Um homem sentado imóvel no terminal em frente ao ponto do Expresso, sacolinha com pertences caída ao lado das mãos inertes. Torrentes de gente indo e vindo, alguns olhavam e continuavam, outros desviavam o caminho, e outros sequer olhavam. Era um lixo apenas, um empecilho trancando a passagem dessa massa INSANA de pessoas, para as quais seus semelhantes passam despercebidos com uma facilidade que assusta aos mais sensíveis!!
Desci, tentei falar com o senhor, ele estava vivo, mas não conseguia falar, comprei uma garrafinha de água, mas ele não reagiu, chamei os guardas, nada.

Prestei atenção nos comentários:

- Ah, tá caindo de bêbado, mamado, sem vergonha, tem que largar aí.

- É vagabundo, não perca seu tempo fia!

Eu penso: Ele estava imóvel, era um senhor, cabelos grisalhos, PARECIA NÃO RESPIRAR, qual o problema das pessoas?? Saio para chamar os guardas de novo, ao voltar tem uma senhora, cutucando a cabeça dele e tentando lhe entregar um panfleto de Igreja: "Procure Deus", ou algo do tipo. Eu cheguei e pedi a ela que se afastasse, que ele precisava de ajuda de um médico não de panfletagem, que parasse com aquela sandice absurda. Ora, o homem sequer reagiu a água, ela vai querer panfletar?? Então ela me pediu: - Coloque no bolso dele então, eu acredito que deus vai salvá-lo. PORRA, MAS QUE MERDA É ESSA? Os guardas resolveram vir e levantaram o senhor, ele estava mesmo bêbado, exalando a álcool, os olhos vermelhos banhados em lágrimas. E DAÍ? Alguém sabe o motivo que o fez chegar a tal ponto? Uma dentre todas aquelas pessoas que deram risada quando ele foi erguido está em um patamar de santidade tão elevado que as permite tripudiar em cima dos dramas alheios?? Quem somos nós para julgar quem deve ser salvo?? Quem pensa assim está impregnado demais dos ensinamentos tortuosos da bíblia que escolhia os que viveriam para sempre e os que iriam queimar no inferno. Ele estava bêbado sim, mas ele poderia estar tendo um ataque, ou qualquer outro problema. Acorda pessoal, o mundo não pode ser assim, não podemos transformar nossos semelhantes em seres invisíveis, não podemos atravessar nossos dias feito lince negras, deixando de sentir qualquer coisa que aconteça ao nosso redor. Eu tinha NOJO de vocês, agora eu tenho MEDO de vocês!!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Divagações apenas.

Estranho como o tempo nos traz coragem, a gente realiza sonhos que antes pareciam pura audácia. Eu hoje tenho o meu tão sonhado moicano, há alguns anos, uns oito, eu pensava em ter, mas ao mesmo tempo achava que era uma utopia - absurdo raspar a cabeça, heresia pura, eu estaria com um pé dentro do manicômio se o fizesse - isso segundo eu mesma. Dizia-me em voz alta, sozinha: - Pare com isso, dois piercings na sombrancelha e você já estará muito hardcore, fodona.- Fui e fiz, os piercings. O tempo passou, levou muitas coisas, me ensinou muitas outras, vi que muito do que eu tinha como verdades absolutas eram puro capricho de adolescente, a navalha do tempo corta rente nossos sonhos sim, no entanto, em contrapartida nos traz uma nova percepção do que nos realizaria dentro de uma realidade palpável, talvez os sonhos bobos de outrora fossem ideais (literalmente) para aquele momento, para que cultivássemos dentro de nós o espírito jovial de luta e esperança, de força e garra, de ser feliz sem fazer esforço, mas é fato que ao nos tornarmos adultos vemos que aqueles sonhos todos, por mais que tenham sido parte fundamental da nossa formação de caráter, não nos satisfaria hoje. Ser humano, agridoce ser humano, desejoso de tanto e no entanto tão pouco disposto a fazer muito, ou mesmo pouco, complexo emaranhado de células que precisa estar sempre mudando seus sonhos ou então se deixa mofar. Sonhos, veja bem, é eufemismo pra ferramenta do destino, ele disfarça o que quer de cada um de nós fazendo com que desejemos exatamente aquilo. Mas finalmente, o moicano - divagações - eu sempre sofri desse mal, raramente consigo ir direto ao ponto:

"Divago devagar
Vagando nesse lugar
De vagas de vaga-lumes
Vagabundeando o vagalhão
Preso nesse vagão
Inundado de vagância
Não me inuma, não me inunda.
Inusitado e inútil
Vou ver o luar
As estrelas a piscar
Talvez o mar, a maré.
E andar a pé
Até raiar o Sol, o dia.
Numa muda melodia
Que me acorda e anuncia
Me transborda e me vicia
E nada me lembra você
Por que nada me faz te esquecer
Como lembrar o inesquecível?
Te esquecer pra depois lembrar é impossível"

Voltando ao maldito moicano, e a bendita (?) navalha do tempo, navalha essa casada com a lâmina do destino, mas paremos por aqui ou me perderei novamente. Tal navalha veio e deixou meu couro cabeludo a mostra, e ele me mostrou que nem todos os sonhos de adolescente eram bobos, me realizou por completo, adoro passar a mão na cabeça e sentir o nada, quando eu o erguia (agora não dá mais, tá muito grande) me sentia o ser humano mais feliz e livre do mundo. Tem gente que critica, MUITA gente critica, acha feio (moicano nunca quis ser bonito e muito menos moda de pagodeiro e ou jogadorzinho de futebol, ele carrega toda uma história de ideologia e de DIY), me falam eu deixar crescer o cabelo e largar mão de ser louca, EU GOSTO do meu cabelo assim e quero continuar a tê-lo por algum tempo, até que eu perceba que a fase se foi, só não quero deixar passar sem ter aproveitado ao máximo.
Às vezes eu penso: - Se eu pudesse voltar a ser adolescente, uns oito anos atrás, com a mentalidade que eu tenho hoje, quanta coisa eu já não teria feito, não ficaria na teoria apenas, iria à luta, pois estaria ali a vontade, a raça do jovem inconsequente junto da maturidade de uma jovem adulta que já sacou qualé que é. Passam-se alguns minutos dessa nostalgia, e eu percebo: - Whatever, talvez eu não tivesse feito nada mesmo, ainda tenho garra mas perdi um tanto da ilusão, e ilusão é perigo, mas também costuma ser um trunfo. Eu tinha tudo pra gostar de sertanejo, funk, pagode, ou ser crente e dona de casa, ou ter uma penca de ranhentos na barra da minha calça. Veja bem, não por consequência de minha educação, a minha mãe sempre foi uma senhora guerreira ( e digo senhora no duplo sentido mesmo), fez de tudo para formar meu caráter da forma mais impecável que ela pôde, me ensinou a ler com cinco anos (o sonho dela sempre foi ser professora), com os gibizinhos da Turma da Mônica e de Walt Disney, depois eu aprendi a escrever e ela me comprava livrinhos de palavra cruzada, e enfim - Foco Vanessa- Disse que tinha tudo pra ter sido uma daquelas coisas porque, pelo fato da religião de minha mãe ser um tanto quanto podadora de qualquer acesso a informação, e pelo fato dela acreditar piamente em tudo o que o homem lá na frente diz, eu não tive TV um bom tempo, e fui ter acesso a computador somente aos 19 anos, acredite. Música que não fossem os hinos de tal Igreja eram tidas como músicas mundanas, "do adversário" - a única música do adversário pra mim é o hino de outros times - , fui ouvir rock pela primeira vez aos 14 anos, quando encontrei um CD do Charlie Brown Jr, (pode rir)e o ouvi deslumbrada num gravadorzinho que minha mãe tinha ganho da AVON, desde aí nunca mais parei de procurar bandas e cantores do meu gosto, então veio a paixão por filmes, os livros sempre foram uma paixão, desde sempre li muito, mas a leitura, o gosto, amadureceu. Falei tanto sobre mim só pra chegar ao ponto principal, porque eu falo tanto sobre ideologias, comportamento reacionário, porque eu reclamo tanto e questiono quase tudo? Creio que essa minha bagagem cultural colaborou, ou melhor dizendo, foi responsável pela minha visão crítica da sociedade e do sistema, e do ser humano de forma geral. Por isso tanto assunto nesse sentido, porque por mais que "no man is no island", se for pra falar de sociedade, seja antiga ou contemporânea, política, revolução, meio ambiente, ou qualquer assunto pertinente ao ser humano, tem que se falar no indivíduo, seu caráter deve ser destrinchado. Ninguém que fale com propriedade sobre assuntos polêmicos pode ser isento de vivência mínima em todas as questões que envolvem tais assuntos, nem mesmo um doutorado lhe dá tanto direito tanto quanto ter estado na pele, seja do lobo ou do cordeiro.

terça-feira, 17 de maio de 2011

I'm on my shit.

Tenho estado precisando me sentir útil. Querendo deixar de lado os discursos e arregaçar as mangas pra variar. Tenho perdido o sono na hora de dormir, tenho sentido sono o dia todo enquanto trabalho. Tenho trabalhado em algo que não me completa, não é o que eu gosto de fazer. Tenho desperdiçado potencial que sem falsa modéstia eu possuo. Tenho sido humana. Tenho tido insights e ideias maravilhosos durante minhas insônias e viradas na cama e tenho pretendido pô-los em prática, sem praticamente nenhuma exceção. Devo acabar os discursos? Não, devo complementá-los com alguns resultados, os quais irei buscar sem falta e já com ânsia de tocá-los. Preciso de ajuda pra alguns deles, preciso que pessoas abracem a(s) causa(s) comigo. Preciso deixar de lado essa coisa sonsa de ouvir desaforos de alguma pessoas e deixar que me magoem, preciso direcionar minha sensibilidade pra algo útil. Fazer algo na vida que seja interessante pra mais alguém além de mim e ao mesmo tempo começar a fazer algo que me satisfaça também. E vou fazer. Tenho me sentido triste com o mundo, com o rumo que as coisas tem tomado (desde sempre), com a falta de compreensão e com a indiferença de algumas pessoas. Tenho me revoltado bastante ultimamente com o que vejo e leio, e tenho chorado muito por causa disso. Queria que fosse mais fácil pra mim levar tudo na brincadeira, não sentir tanto, não levar essa dor no peito e essa sensação de mãos atadas. Queria fazer piadas de tudo e cagar e andar e pouco me foder, mas não consigo, isso está acabando comigo, queria que esse nó na minha garganta se desatasse e nunca mais se refizesse, mas então, não seria mais eu, seria outro qualquer, e não posso me separar de mim. Só queria poder voltar a dormir acreditando piamente que as dores do mundo e das pessoas não são minha culpa, que eu não faço parte disso tudo. Frequentemente tenho sentido vontade de gritar, de tomar um porre de vinho como eu fazia antigamente, e vomitar tudo, e achar que estou prestes a morrer. Tenho sentido raiva de mim, e tem um negócio na minha cabeça, não no hardware, no software mesmo, na minha consciência, um negócio lá dentro que eu não estou conseguindo configurar, eu não consigo acessar esse lugar por mais que me concentre e medite nele. É um vazio que dói diferente, dói sem doer, uma aflição inquietante, e esse lugar fica mandando mensagens pro meu peito (de novo o software), dizendo pra ele ficar pesado e denso feito um furação de concreto, que arranca do chão minha capacidade de raciocínio, só dá vontade de chorar e chorar, e fazer merda, ao mesmo tempo que quero mudar isso tudo de forma positiva sinto também vontade de fazer merda e acabar tudo de uma vez. Talvez seja um bug passageiro, mas eu tenho medo, MUITO MEDO de ser pra sempre enquanto eu estiver viva, e que talvez eu não tenha força pra assumir esse meu lado, essa minha angústia. Eu realmente tenho tido respostas, mas com elas surgem mais dúvidas, e mais medos, e mais covardias, não tenho forças pra correr atrás dos meus sonhos, sequer sei se o que eu acho que é meu sonho, realmente o é. E se for tudo engano? E se eu for isso mesmo? Limpar fraldas pra sempre, tirar daqui pra pagar ali, abrir mão de tudo o que eu acreditava, e dar o cu para aquilo tudo que eu sempre critiquei, e sempre achei que estava errado. E se for isso mesmo, ser criança, inocente, feliz, depois adolescente, inconsequente, dramático, cheio de ideologias e utopias (até então não sabidas como tal), depois jovem adulto e achando ainda tudo lindo, e em seguida ir envelhecendo na merda, sentindo problemas no joelho, dores na coluna, primeiros sintomas de estresse, primeira fluoxetina, responsabilidades aos montes, amigos indo embora, mesmo morando perto, fotos ficando desbotadas, músicas perdendo o sentido, flores arrancadas secas dentro de um caderno, que se desfarelam com o mínimo toque, olhos que já derrubaram todo o brilho tentando iluminar nossa sanidade pelo caminho louco. Tenho pensado, pesquisado, lido, ouvido, escrito, tenho existido, existido apenas, o contrário do que eu sempre quis. A ignorância deve mesmo ser uma dádiva. Tenho sentido isso tudo intensamente, e tudo o que eu mais queria fazer era enfiar a mão no peito e arrancar essas coisas, mas não consigo, não dá. Vou ter que assumir isso e fazer algo a respeito. O QUE?? O que pode ser feito a respeito?? Aqui entram as ideias, vou tentar. Espero que só as boas.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

São Paulo Futebol Clube!!

Eu tenho um manto que me cobre com cores nobres!
Vermelho, preto, branco, cores vibrantes de história e glória!
Me traz tanta alegria, me desperta tanto amor!
Eu tenho um manto que me acompanhará até o fim!
Meu time, meu clube, São Paulo, amor sem fim!

Traz o nele o peso que não canso de levar, o peso de ganhar!
Traz nele a força que me faz cantar, me faz chorar!
E canto e grito e visto esse meu manto
Seja qual for o placar, pra sempre vou te amar São Paulo.

Eu tenho o hino mais lindo e mais forte do mundo!
Eu tenho as cores que enfrentaram a censura!
Eu tenho um escudo cheio de estrelas
Eu torço pro Mais Querido, o Clube da Fé

Estarei com você, onde você estiver
Quem te faz é o seu nome, sua história
Tuas cores, tuas vitórias
Como eu te amo nunca vou conseguir explicar

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Éramos.

A foto estava ali, eu olhava pra ela e já não nos via, fotografia, metáfora perfeita, fomos paralisados no tempo, com aquelas expressões de soldados irredutíveis e incorruptíveis, aqueles cheiros de gibis e livros velhos, amarelados, posso sentir quando fecho os olhos, a cor da tarde, cor do cair da tarde, posso sentir na pele o calor do Sol se amenizando, os sons, o ruído na vitrola tocava um blues qualquer, posso ouvir a melancolia me rasgando a alma, e nós ali, posso ver, com tristeza, deixados para trás, como se aprisionados num retângulo de papel, e como irônicamente nos tornamos hoje, escravos de outro retângulo de papel, sem escrúpulos e sem o cheiro bom de passado gostoso.

Nós éramos felizes pois fazíamos o que mais gostávamos, nós tínhamos sonhos e lutávamos por eles, pois acreditávamos neles de fato e havia paixão, havia uma força em nós, olha, dá pra ver nos nossos olhos, aqueles jovens poderiam carregar o mundo nas costas, destruir toda a fome e toda dor existente no mundo, eles podiam tudo no brilho de suas faces e no desgrenho de seus cabelos, nos desleixos de suas roupas, e nos sorrisos um escudo, e isso tudo porque eles ouviam rock n' roll.

Roubaram da gente o que tínhamos de melhor, o tempo nos vestiu de social(mente aceitáveis), tosou nosso cabelo, arrancou sem dó nossos adereços rebeldes, cortou nossos adejos, nos colocou em repartições públicas, e hoje mentimo-nos, dizemos bajulações patéticas e praticamos demagogias pra pagar o aluguel. Quase não vemos os amigos, a cerveja desce preocupada, misturado à cevada está a preocupação com a meta do mês, acordar cedo, bater o cartão, fingir, fingir, fingir, ser infeliz, eu tenho que ser infeliz amanhã, senão não dá pra pagar a internet, (o que era internet naquela época na qual o contato era o nirvana literal de uma geração?) não posso ficar de ressaca. Tempo, tempo, tempo e os garotos que iam mudar o mundo?? Se atirando de cima do muro para matar o que se tornaram, tentando acordar o resto de verdade que ainda pulsa ali. Grand Monde, Grand monde!! Até onde nos levaste e quão longe ainda seremos capazes de nos afastar de nós mesmos, até quando esse pedaço de papel rude vai dominar a textura de coisas mais simples como uma pétala de rosa carregada de boas lembranças?? Até quando nosso suor vai lavar o dinheiro dos caras que antes eram nossos terríveis inimigos?? Qual tipo de lavagem cerebral nos foi feita, que não nos fez esquecer e sim abrir mão? Já não suporto olhar no espelho e ver aquele garoto bobo imerso em tanta bobagem que não as que ele amava, as bobagens inocentes e que cheiravam a cumplicidade, nem o ônibus ele pagava, e achava que estava enfrentando o sistema, tolo, tolo, mas sinto falta dele. O sistema não se esqueceu dele, veio e varreu tudo, os amigos se reúnem e não riem tanto quanto antes, acham absurdo coisas antes corriqueiras, e tem vergonha de rever as fotos como se o passado fosse negro como o futuro o é, e é mesmo, porque tudo que queríamos escureceu entre tantos papéis burocráticos, entre lápis e calculadoras, entre lábios calculistas, entre vermes e víboras. E a arte virou coisa de vagabundo, de novo e mais do que nunca, e nosso sonho de palavras deitadas no papel se deitou agora num caixão frio e podre como nosso vazio, nosso sonho de imagens falantes na telona, nossas trilhas sonoras se calaram diante do absurdo tsunami de responsabilidades que invadiu nosso aconchego sensível, nosso canto de dormir, nosso canto de sorrir, nosso canto, nossa voz, tudo deixado para trás na pressa de pegar o metrô, na pressa de pegar o terno na lavanderia, na pressa de passar pela criança com fome, e pela velhinha com frio sem sequer olhar pro lado, porque é assim que as coisas são, não há nada que se possa fazer a respeito, não se tem nada a ver com isso. DE ONDE, diz de onde surgiu esse conformismo todo?? Pra que oceano cruel desaguaram nossaslágrimas de indignação com esse mundo, pra onde foi nossa certeza de que fazer o pouco que estava ao nosso alcance bastava, porque estou dentro desse mecanismo selvagem?? Traz de volta alguma coisa tempo cruel, já que tirastes tanto, dá nos o gosto ideológico de novo, põe nessa nossa língua insossa um pouco mais de tesão pela vida e suas aventuras, para que possamos sorrir de novo o nosso sorriso de heróis sem poderes, e mesmo assim, invencíveis.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Às vezes simplesmente não consigo escrever, tenho em minha mente o que dizer, no entanto as palavras parecem não suportar o toque com as outras, as frases se recusam a se formar...Então com tantas ideias na cabeça e tantas certezas e teorias só me resta metralhar essa folha em branco, que na verdade nem folha é, e sim um simples documento do Word.
Assim como eu não sou da natureza como a celulose, sou artificial como a
(a palavra não existe mais pra mim, fugiu assim como tudo que eu achava saber, a loucura se apossa, e ao som de Down em Mim, eu choro, devolve minha palavra, devolve agora, antes que eu morra e feda aqui, antes que as lágrimas me afoguem e eu derreta em sua acidez...Cospe em mim minha palavra logo. Cospe em mim o amor maldito que você arrancou de mim. A minha palavra bateu de repente) tecnologia, eu sou assim frio como a tecnologia, frio de abandono, não de pôr- do - sol, que é morno.
Morno como o papel que queima nas chamas de meu isqueiro, queima destruindo letras abstratas, que declaram um tumor que não existe, uma coisa, assim repugnante, marrom, doentia, pálida e com textura arredia...Fedida, fedia como minha alma.
Sim, era isso, eram meus dias podres que jaziam ali despedaçados, nem sequer viraram cinzas quando as chamas os lamberam num sexo oral luxurioso e pecador, não, as chamas fizeram nesses meus dias uma carícia vulgar e molhada de saliva quente como lavas, lavas que queimaram meu rosto nessas lágrimas ferventes e poluídas de sentimentos desesperados, afogados...As lágrimas não permitiram, e eles estão esquartejados, aqui e ali um pedaço e outro, e o cheiro impregna minha cama. Minhas narinas trancafiadas se abrem pra inalar esse ar inebriante, logo de manhã quando eu acordo e vejo isso: Deitada em minha cama, com duas cobertas uma blusa muito quente, eu suava abundantemente, meu cabelo colava na testa, e estava com um cheiro de azedo, que se confundia com o cheiro do resto de comida de outro dia que estava no prato sob a cama. No chão perto da mesa do computador, minhas roupas sujas, esperando serem lavadas, quase não havia peças limpas. O chão há dias sem varrer, lixos por ali, era dia avançado, mas eu não queria levantar, podia ver o dia pelas frestas da janela, mas queria ficar ali petrificada o dia todo, com meu cheiro e minha cor escura entre a penumbra. Eu estava morrendo, e era tão suave sabe. Era melhor do que me sentir viva e doer por não estar lá daquele lado, naquele beijo molhado e pornogrento, cheio de alento ou de uma coisa material, talvez um pano não sei bem, um pano muito macio que escorrega entre seus dedos, assim que eu sentia, como se escorregasse entre seus dedos, enquanto eles iam em busca de outro pano, talvez um de seda. Não esse pano velho e furado, surrado e úmido, fedendo a mofo, mas o pano velho estava assim de tanto que te acompanhou, te protegeu do frio, limpou teu nariz cheio de catarro, secou tuas lágrimas adocicadas e falsas quando você perdia um tecido, ou descascava cebola, esse pano que você até como pano de chão usou, te serviu tão fielmente, e nunca te deixou na mão, até que achaste uma seda qualquer, que no frio é gelada, e não seca coisa alguma, e seu catarro vai espalhar pela tua cara, por que seda é lisa demais, e ele não vai parar no rodo quando você quiser limpar o chão por onde teus pés caminham, chão onde eu, pano velho estarei, caído esquecido, e por incrível que pareça grato, por deitar meus restos no lugar onde dantes teus amados pés pisaram, e ainda há pouco você pisou em mim, não deve ter notado por que panos não falam, se fosse a seda você saberia, por que teria escorregado em sua traiçoeira maciez. Bom caso você queira me pegar do chão pra usar-me de novo, talvez me lave, e costure alguns pontos, mas devo dizer-lhe algumas palavras sobre o que vai acontecer, prevenir-lhe, afinal me importo contigo. - Não adianta, estou por demais encardido com teu vômito falso e tingido de palavras doces e nodosas. Estou podre e rasgo se você me tocar um pouco mais forte, por que de tanto desmazelo, eu perdi a força de minhas fibras. Devo adiantar-lhe que deveria me jogar fora ou me queimar de vez agora, pois pra nada sirvo mais, mas peço-lhe ainda no auge de minha ousadia, que antes disso, me torça e torça para que eu me seque de suas lágrimas e das minhas, e do meu suor, sim eu sou um pano, mas suei quando você me esquecia em varais alheios e eu corria atrás de ti, e olha que esses outros varais tinham me amaciado, e não me punham de molho nas águas limosas nas quais eu mergulhava nessa ânsia de insistir em ti. Esses varais me tratavam bem, me recolhiam e me aqueciam com um ferro de passar, às vezes a vapor, vapor de amor e talco de bebê. Mas aqui estou.
Deitada na cama voltei a ser gente, e em vez de talco de bebê, tem um copo de bebida em cima da cômoda, deve-se a ele minha cabeça doendo e a boca seca deve-se a sua saliva ausente, e eu não quero mesmo levantar, sou um pano em chamas, nas chamas ferventes dessa febre que me acomete de amor e ódio, e meus olhos vermelhos queimam, delirantes, não vejo nada mais e minhas juntas doem, uma dor aguda e uma tosse presa. Sinto tontura, boca amarga, e acho que estou mais vivo que nunca, porque minha demência não me permite pensar em você. Mas me traí, nesse mesmo segundo pensei em ti. E caio e soluço, meu cabelo úmido grudado na cara tampa meus olhos e minha roupa é deprimente, minhas meias fogem dos pés, minha calça furada e velha, e um moletom azul, uma blusa quente, e as cobertas me enlouquecem não tanto como já estou, não mais que isso, que é impossível...Ânsia, soluços, lágrimas, dores, amores, enganos, panos...Você!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Você reclama.

Você reclama que eu não te faço nada, que eu não te amo mais.
Você reclama que eu não vou pra cama, que eu não sou capaz.
Você fala e repete que eu não me esforço
Não pego tua mão, te trago solidão, se me pede sorriso eu digo não.
Não vou ao teu encontro, nem te ligo de volta, nem te faço escolta.
Você reclama, reclama e você diz e repete que eu sou babaca.
Fraco e magro demais pra você, que eu não penteio cabelo.
Que eu fumo e bebo demais, e sou pobre demais pra você.
Que eu mato a aula, que eu fujo de casa todo dia e gasto grana a toa.
Que eu gosto de cinema obscuro de música estranha de livro de poema
E você nem sabe que eu te amo o máximo
Nem sabe que eu deito do teu lado quando você dorme e levanto antes que você acorde
Eu não sorrio porque o medo de te perder me deixa sério
Não pego tua mão por medo de nunca mais querer largar, te trago solidão pra você sentir minha ausência.
Não vou ao teu encontro, nem te ligo nem te escolto, te quero livre como eu.
Sou babaca e fraco e magro e pobre, odeio pentes, que roubam o lugar de tuas mãos em meu cabelo
Fumo e bebo demais pra disfarçar que só tenho olhado em você
Mato aula, fujo de casa e gasto grana, mas nada a toa, tudo pra ir te ver.
Gosto de cinema obscuro feito teu olhar, música estranha feito tua voz, livro de poema pra te recitar aquele que fiz um dia falando que é de outro autor.
E você nem sabe que o pouco que te amo é o maior amor que eu poderia e que eu pude aqueles dias
E você nem sabe que tudo se foi, deslizou como seus lábios ainda deslizam nos meus, mas sem a parte do pra sempre.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Palavras

Eu gosto de palavras que me falem
Sem que eu as leia
Palavras que derretam quando pronunciadas
Que se auto interpretem e emocionem
Palavras que descrevam exatamente
Palavras que entrem em minha mente
E que ao lê-las, sejam como músicas.
E que elas saibam o que se sente
E que sejam lindas e únicas
Que em piadas, façam rir.
Em crônicas divirtam
Em contos entretam
Em poemas de amor, emocionem.
Em cartas, as novidades.
Na música, se façam cantar.
Que os olhos as leiam empolgados
Os ouvidos as ouçam curiosos
E que se deixem os legados
E que se ocupem os ociosos
E também os outros de sua leitura
E de sua escrita, e de sua melodia.
De sua cultura
De sua beleza sadia
De noite nas histórias pra criança dormir
E também durante o dia

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Pessoa Caótica!!

Aconteceram coisas...Então desconfiei que sou uma pessoa caótica, essa palavra me ilustra.
Explicarei:

Me ligaram, disseram ter que falar comigo, e que viriam aqui no dia seguinte:
Telefone toca:
-Alô?
-Oi, tenho que falar com você, amanhã vou aí.
-Mas me conte agora.
-Não posso, amanha irei aí e conto.

Devo dizer que essa noite não pude pregar os olhos.
Imaginei toda e qualquer hipótese negativa e absurda que pude. Minhas entranhas se reviravam e refletiam minha ansiedade, que quase me sufocava durante a madrugada misteriosa...Todo o tipo de mistério sempre me torturou.
Fato é que o dia seguinte chegou junto com um Sol e uma brisa inquieta, cheiro de pão novo, e de café fresco...Pássaros cantavam e o vizinho ao lado assoviava na sacada. Todos esses resquícios de um dia nascendo e essa sensação cínica de paz me estressou ainda mais, olheiras e irritabilidade nítidas.
Que hora do dia viria aquela pessoa pra findar minha angústia?

Algumas hipóteses que imaginei:
Alguém sofrera um acidente ou tinha uma doença fatal.
Alguém falara mal de mim, e eu perderia a amizade de pessoas importantes.
Alguém teria fotos comprometedoras minhas e me faria chantagem (Que fotos? Se nada faço de comprometedor?).
Alguém cometeu suicídio, foi assassinado?
Os E.T’s estão prestes a dominar o planeta?
A minha vida é filmada, inclusive meus momentos mais íntimos e inconfessáveis?
Enfim, entre outras hipóteses, essas eram as menos absurdas.

Não quero nem gosto de levantar cedo, fico ouvindo o assobio do vizinho, que com certeza faz parte da conspiração... Alias, todos fazem...Até minha gata...Esse miado dela nada tem de inocente. Está tentando me avisar.
Será que no fundo eu também faço? É isso? Até eu estou contra mim?

Enfim, ligo o som. Ouço o rangido do portão, alguém sobe os degraus, entra no corredor abre a porta...Aguardo ansioso querendo ver a pessoa que me salvaria.
A pessoa entra no apartamento ao lado.

Bem mais tarde chega quem eu tanto esperei. Já estava febril de tanta curiosidade, minhas mãos tremiam e eu estava facilmente irritável, qualquer gesto ou barulho me causava um ódio mortal do responsável.
Ouço passos, um por um, logo adentra meu quarto, com uma cara cinicamente calma:

-Olá, tudo bem?
(Como tudo bem, esperei-te o dia todo pra saber o que tramaste contra mim).
-Tudo bem sim, e você?
(Beijos falsos no rosto, falsos da minha parte, de ódio).
-Lembra que liguei ontem, e tinha algo pra te dizer?
-Não me lembro. Sério que ligastes? (Oh céus, perdi uma noite de sono e um dia de vida pensando nisso).
-Lembro-me bem, fale logo!

Alternativa 1:

-Lembra-se do pé de tomate que plantei no quintal de casa?
-Sim, estava contigo quando plantastes (O que acontecera? Teria o tomate criado vida?).
- É, então, ele apodreceu e nem chegou a dar tomates.
-Hã, era isso?
-Sim, não podia falar ao telefone, pois meu crédito estava acabando.
-Ahhhhhhhh...(cometo homicídio com requintes de crueldade)

Alternativa 2

-Vim o caminho todo tentando lembrar o que era, simplesmente me fugiu da mente.
-Hã?Você esqueceu o que era?
-Sim, simplesmente me esqueci, ah nem devia ser importante mesmo.
- (morro)


Alternativa 3

-Pois é, mostrei aquele trabalho seu pra direção da empresa, eles gostaram e você começa quando quiser, o salário é ótimo.
-Mas isso é... É...BOM.

Sou uma pessoa caótica.

Pré, ou pós algo muito sério.

Isso aqui tá complexo
A noite é uma mansão
E o dia não tem nexo
À noite moro nos meus sonhos
De dia a luz me cobra sentido
A noite é uma verdade
O dia, uma falsidade.
Meu medo noturno me inspira
Como queres ser real, se foges da única realidade?
A dor é real, o beijo com sangue é real.
Pelas ruas possuídas de noite eu caminho
Prédios antigos e escuros
Passados, presentes e futuros.
Meus olhos refletem um medo seguro
Minha saúde está no escuro
Só isso é real, nascer pra morrer.
Sentir amores e dores
Só os pecados são humanos, o resto é fantasia.
Todos têm medo de amar, se entregar.
Amo a noite e fujo do escuro pra disfarçar
Ninguém é perfeito, e ninguém é tão imperfeito como eu.
Todo mundo erra, eu já nasci um erro.
A noite é minha borracha, me apaga, me engole em sua densidade gelada.
O cemitério me aguarda, uma fogueira na inquisição.
Um monstro me persegue, e eu sou um engano.
Sou um rascunho, fizeram, amassaram e eu criei vida.
Alguém me cuspiu no mundo, e como todo líquido estou evaporando.
Poluindo o ar com minhas partículas podres
Se uma chuva ácida cair, são as nuvens me expulsando delas.

My blood is a poison
My skin burn my soul
My life is my sin.

What a Wonderful World (?)

Que mundo é esse, no qual crianças escrevem cartas ao Papai Noel pedindo comida?
Que mundo é esse no qual políticos indignos recebem super salários e querem aumentá-los?
Mundo louco no qual pessoas morrem de fome, no qual velhinhos se cobrem com papelão nas noites de frio.
Mundo que mata seus habitantes na guerra, ao mando de homens poderosos.
Homens esses, que mandam seus semelhantes se matarem em nome de um Deus que não quer nenhum sacrifício.
Onde crianças não estudam, trabalham como escravos, e pessoas quando adoecem não tem dinheiro pra comprar remédio.
Mundo em que destruímos nossa natureza, não amamos os outros animais, não respeitamos as diferenças de nossos irmãos.
Mundo esse, no qual eu vivo, enquanto alguns vão cear fartamente no Natal, outros vão continuar revirando os lixos, em busca de uma ceia que ao menos os mantenha vivos.
E já que essas pessoas estão nesse mundo assustador, não seria justo que elas ao menos pudessem se manter vivas?
Mundo, no qual os mesmos políticos que recebem salários monstruosos não estarão satisfeitos com isso, e desviarão verbas de coisas vitais como saúde, educação e alimentação, roubarão de nós, que pagamos impostos, e também dos que não pagam, por que alguns não podem pagar nem o pão de cada dia.
Mas os políticos vão roubar mais um pouco, afinal vão acabar sem punição mesmo.Mas se seus filhos estiverem morrendo de fome em seus braços não roube um litro de leite, nem um pote de margarina, por que irá apodrecer na cadeia, e se eles estiverem doentes não vá até um hospital, pois não será atendido, por falta de leito, ou de médicos.
Mundo no qual as crianças que não forem apadrinhadas no projeto do jornal, receberão uma resposta de satisfação, mas eles não querem uma resposta, não fizeram pergunta alguma querem apenas uma bola, uma boneca, uma roupa, não precisa ser nada eletrônico, até um pião os deixaria felizes, e quem sabe um almoço garantido.
Mundo no qual eu vivo, que eu temo, no qual a violência lidera, e o poder corrompe, no qual vamos destruindo-nos uns aos outros.
O que acontecerá quando não restar povo pra esses políticos governarem? Logo, iremos padecer no esquecimento ao qual fomos condenados, ao desdém daqueles que deveriam proteger a Nação e o Planeta, mas e aí quem eles irão governar? Quem irão extorquir com sua ganância sem fim?
O rugido desse mundo monstro nada mais é que o grito de dor dos doentes, o ronco no estômago dos famintos, as bombas devastando vidas, armas disparando contra seus entes que voltam do trabalho, e o uníssono das metralhadoras cuspindo o ódio do homem, como dragões capitalistas, sentenciando a raça humana, e por fim, a enxurrada de lágrimas derramadas por nossas dolorosas perdas, não materiais, já que não temos nada assim, mas perdas de nossos entes, de nossas vidas, da nossa dignidade e do brilho em nosso olhar.
Nesse mundo, se continuar assim, as crianças vão descobrir cedo demais que Papai Noel não existe e destruído o sonho e a ilusão de uma criança, morre também o futuro adulto que nela habitaria.
Destruindo precocemente a criança, morre também a esperança de um mundo menos carrasco e mais justo, com um abismo menor entre pobres e ricos.