sexta-feira, 10 de junho de 2011

Divagações apenas.

Estranho como o tempo nos traz coragem, a gente realiza sonhos que antes pareciam pura audácia. Eu hoje tenho o meu tão sonhado moicano, há alguns anos, uns oito, eu pensava em ter, mas ao mesmo tempo achava que era uma utopia - absurdo raspar a cabeça, heresia pura, eu estaria com um pé dentro do manicômio se o fizesse - isso segundo eu mesma. Dizia-me em voz alta, sozinha: - Pare com isso, dois piercings na sombrancelha e você já estará muito hardcore, fodona.- Fui e fiz, os piercings. O tempo passou, levou muitas coisas, me ensinou muitas outras, vi que muito do que eu tinha como verdades absolutas eram puro capricho de adolescente, a navalha do tempo corta rente nossos sonhos sim, no entanto, em contrapartida nos traz uma nova percepção do que nos realizaria dentro de uma realidade palpável, talvez os sonhos bobos de outrora fossem ideais (literalmente) para aquele momento, para que cultivássemos dentro de nós o espírito jovial de luta e esperança, de força e garra, de ser feliz sem fazer esforço, mas é fato que ao nos tornarmos adultos vemos que aqueles sonhos todos, por mais que tenham sido parte fundamental da nossa formação de caráter, não nos satisfaria hoje. Ser humano, agridoce ser humano, desejoso de tanto e no entanto tão pouco disposto a fazer muito, ou mesmo pouco, complexo emaranhado de células que precisa estar sempre mudando seus sonhos ou então se deixa mofar. Sonhos, veja bem, é eufemismo pra ferramenta do destino, ele disfarça o que quer de cada um de nós fazendo com que desejemos exatamente aquilo. Mas finalmente, o moicano - divagações - eu sempre sofri desse mal, raramente consigo ir direto ao ponto:

"Divago devagar
Vagando nesse lugar
De vagas de vaga-lumes
Vagabundeando o vagalhão
Preso nesse vagão
Inundado de vagância
Não me inuma, não me inunda.
Inusitado e inútil
Vou ver o luar
As estrelas a piscar
Talvez o mar, a maré.
E andar a pé
Até raiar o Sol, o dia.
Numa muda melodia
Que me acorda e anuncia
Me transborda e me vicia
E nada me lembra você
Por que nada me faz te esquecer
Como lembrar o inesquecível?
Te esquecer pra depois lembrar é impossível"

Voltando ao maldito moicano, e a bendita (?) navalha do tempo, navalha essa casada com a lâmina do destino, mas paremos por aqui ou me perderei novamente. Tal navalha veio e deixou meu couro cabeludo a mostra, e ele me mostrou que nem todos os sonhos de adolescente eram bobos, me realizou por completo, adoro passar a mão na cabeça e sentir o nada, quando eu o erguia (agora não dá mais, tá muito grande) me sentia o ser humano mais feliz e livre do mundo. Tem gente que critica, MUITA gente critica, acha feio (moicano nunca quis ser bonito e muito menos moda de pagodeiro e ou jogadorzinho de futebol, ele carrega toda uma história de ideologia e de DIY), me falam eu deixar crescer o cabelo e largar mão de ser louca, EU GOSTO do meu cabelo assim e quero continuar a tê-lo por algum tempo, até que eu perceba que a fase se foi, só não quero deixar passar sem ter aproveitado ao máximo.
Às vezes eu penso: - Se eu pudesse voltar a ser adolescente, uns oito anos atrás, com a mentalidade que eu tenho hoje, quanta coisa eu já não teria feito, não ficaria na teoria apenas, iria à luta, pois estaria ali a vontade, a raça do jovem inconsequente junto da maturidade de uma jovem adulta que já sacou qualé que é. Passam-se alguns minutos dessa nostalgia, e eu percebo: - Whatever, talvez eu não tivesse feito nada mesmo, ainda tenho garra mas perdi um tanto da ilusão, e ilusão é perigo, mas também costuma ser um trunfo. Eu tinha tudo pra gostar de sertanejo, funk, pagode, ou ser crente e dona de casa, ou ter uma penca de ranhentos na barra da minha calça. Veja bem, não por consequência de minha educação, a minha mãe sempre foi uma senhora guerreira ( e digo senhora no duplo sentido mesmo), fez de tudo para formar meu caráter da forma mais impecável que ela pôde, me ensinou a ler com cinco anos (o sonho dela sempre foi ser professora), com os gibizinhos da Turma da Mônica e de Walt Disney, depois eu aprendi a escrever e ela me comprava livrinhos de palavra cruzada, e enfim - Foco Vanessa- Disse que tinha tudo pra ter sido uma daquelas coisas porque, pelo fato da religião de minha mãe ser um tanto quanto podadora de qualquer acesso a informação, e pelo fato dela acreditar piamente em tudo o que o homem lá na frente diz, eu não tive TV um bom tempo, e fui ter acesso a computador somente aos 19 anos, acredite. Música que não fossem os hinos de tal Igreja eram tidas como músicas mundanas, "do adversário" - a única música do adversário pra mim é o hino de outros times - , fui ouvir rock pela primeira vez aos 14 anos, quando encontrei um CD do Charlie Brown Jr, (pode rir)e o ouvi deslumbrada num gravadorzinho que minha mãe tinha ganho da AVON, desde aí nunca mais parei de procurar bandas e cantores do meu gosto, então veio a paixão por filmes, os livros sempre foram uma paixão, desde sempre li muito, mas a leitura, o gosto, amadureceu. Falei tanto sobre mim só pra chegar ao ponto principal, porque eu falo tanto sobre ideologias, comportamento reacionário, porque eu reclamo tanto e questiono quase tudo? Creio que essa minha bagagem cultural colaborou, ou melhor dizendo, foi responsável pela minha visão crítica da sociedade e do sistema, e do ser humano de forma geral. Por isso tanto assunto nesse sentido, porque por mais que "no man is no island", se for pra falar de sociedade, seja antiga ou contemporânea, política, revolução, meio ambiente, ou qualquer assunto pertinente ao ser humano, tem que se falar no indivíduo, seu caráter deve ser destrinchado. Ninguém que fale com propriedade sobre assuntos polêmicos pode ser isento de vivência mínima em todas as questões que envolvem tais assuntos, nem mesmo um doutorado lhe dá tanto direito tanto quanto ter estado na pele, seja do lobo ou do cordeiro.

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