domingo, 23 de janeiro de 2011

Às vezes simplesmente não consigo escrever, tenho em minha mente o que dizer, no entanto as palavras parecem não suportar o toque com as outras, as frases se recusam a se formar...Então com tantas ideias na cabeça e tantas certezas e teorias só me resta metralhar essa folha em branco, que na verdade nem folha é, e sim um simples documento do Word.
Assim como eu não sou da natureza como a celulose, sou artificial como a
(a palavra não existe mais pra mim, fugiu assim como tudo que eu achava saber, a loucura se apossa, e ao som de Down em Mim, eu choro, devolve minha palavra, devolve agora, antes que eu morra e feda aqui, antes que as lágrimas me afoguem e eu derreta em sua acidez...Cospe em mim minha palavra logo. Cospe em mim o amor maldito que você arrancou de mim. A minha palavra bateu de repente) tecnologia, eu sou assim frio como a tecnologia, frio de abandono, não de pôr- do - sol, que é morno.
Morno como o papel que queima nas chamas de meu isqueiro, queima destruindo letras abstratas, que declaram um tumor que não existe, uma coisa, assim repugnante, marrom, doentia, pálida e com textura arredia...Fedida, fedia como minha alma.
Sim, era isso, eram meus dias podres que jaziam ali despedaçados, nem sequer viraram cinzas quando as chamas os lamberam num sexo oral luxurioso e pecador, não, as chamas fizeram nesses meus dias uma carícia vulgar e molhada de saliva quente como lavas, lavas que queimaram meu rosto nessas lágrimas ferventes e poluídas de sentimentos desesperados, afogados...As lágrimas não permitiram, e eles estão esquartejados, aqui e ali um pedaço e outro, e o cheiro impregna minha cama. Minhas narinas trancafiadas se abrem pra inalar esse ar inebriante, logo de manhã quando eu acordo e vejo isso: Deitada em minha cama, com duas cobertas uma blusa muito quente, eu suava abundantemente, meu cabelo colava na testa, e estava com um cheiro de azedo, que se confundia com o cheiro do resto de comida de outro dia que estava no prato sob a cama. No chão perto da mesa do computador, minhas roupas sujas, esperando serem lavadas, quase não havia peças limpas. O chão há dias sem varrer, lixos por ali, era dia avançado, mas eu não queria levantar, podia ver o dia pelas frestas da janela, mas queria ficar ali petrificada o dia todo, com meu cheiro e minha cor escura entre a penumbra. Eu estava morrendo, e era tão suave sabe. Era melhor do que me sentir viva e doer por não estar lá daquele lado, naquele beijo molhado e pornogrento, cheio de alento ou de uma coisa material, talvez um pano não sei bem, um pano muito macio que escorrega entre seus dedos, assim que eu sentia, como se escorregasse entre seus dedos, enquanto eles iam em busca de outro pano, talvez um de seda. Não esse pano velho e furado, surrado e úmido, fedendo a mofo, mas o pano velho estava assim de tanto que te acompanhou, te protegeu do frio, limpou teu nariz cheio de catarro, secou tuas lágrimas adocicadas e falsas quando você perdia um tecido, ou descascava cebola, esse pano que você até como pano de chão usou, te serviu tão fielmente, e nunca te deixou na mão, até que achaste uma seda qualquer, que no frio é gelada, e não seca coisa alguma, e seu catarro vai espalhar pela tua cara, por que seda é lisa demais, e ele não vai parar no rodo quando você quiser limpar o chão por onde teus pés caminham, chão onde eu, pano velho estarei, caído esquecido, e por incrível que pareça grato, por deitar meus restos no lugar onde dantes teus amados pés pisaram, e ainda há pouco você pisou em mim, não deve ter notado por que panos não falam, se fosse a seda você saberia, por que teria escorregado em sua traiçoeira maciez. Bom caso você queira me pegar do chão pra usar-me de novo, talvez me lave, e costure alguns pontos, mas devo dizer-lhe algumas palavras sobre o que vai acontecer, prevenir-lhe, afinal me importo contigo. - Não adianta, estou por demais encardido com teu vômito falso e tingido de palavras doces e nodosas. Estou podre e rasgo se você me tocar um pouco mais forte, por que de tanto desmazelo, eu perdi a força de minhas fibras. Devo adiantar-lhe que deveria me jogar fora ou me queimar de vez agora, pois pra nada sirvo mais, mas peço-lhe ainda no auge de minha ousadia, que antes disso, me torça e torça para que eu me seque de suas lágrimas e das minhas, e do meu suor, sim eu sou um pano, mas suei quando você me esquecia em varais alheios e eu corria atrás de ti, e olha que esses outros varais tinham me amaciado, e não me punham de molho nas águas limosas nas quais eu mergulhava nessa ânsia de insistir em ti. Esses varais me tratavam bem, me recolhiam e me aqueciam com um ferro de passar, às vezes a vapor, vapor de amor e talco de bebê. Mas aqui estou.
Deitada na cama voltei a ser gente, e em vez de talco de bebê, tem um copo de bebida em cima da cômoda, deve-se a ele minha cabeça doendo e a boca seca deve-se a sua saliva ausente, e eu não quero mesmo levantar, sou um pano em chamas, nas chamas ferventes dessa febre que me acomete de amor e ódio, e meus olhos vermelhos queimam, delirantes, não vejo nada mais e minhas juntas doem, uma dor aguda e uma tosse presa. Sinto tontura, boca amarga, e acho que estou mais vivo que nunca, porque minha demência não me permite pensar em você. Mas me traí, nesse mesmo segundo pensei em ti. E caio e soluço, meu cabelo úmido grudado na cara tampa meus olhos e minha roupa é deprimente, minhas meias fogem dos pés, minha calça furada e velha, e um moletom azul, uma blusa quente, e as cobertas me enlouquecem não tanto como já estou, não mais que isso, que é impossível...Ânsia, soluços, lágrimas, dores, amores, enganos, panos...Você!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Você reclama.

Você reclama que eu não te faço nada, que eu não te amo mais.
Você reclama que eu não vou pra cama, que eu não sou capaz.
Você fala e repete que eu não me esforço
Não pego tua mão, te trago solidão, se me pede sorriso eu digo não.
Não vou ao teu encontro, nem te ligo de volta, nem te faço escolta.
Você reclama, reclama e você diz e repete que eu sou babaca.
Fraco e magro demais pra você, que eu não penteio cabelo.
Que eu fumo e bebo demais, e sou pobre demais pra você.
Que eu mato a aula, que eu fujo de casa todo dia e gasto grana a toa.
Que eu gosto de cinema obscuro de música estranha de livro de poema
E você nem sabe que eu te amo o máximo
Nem sabe que eu deito do teu lado quando você dorme e levanto antes que você acorde
Eu não sorrio porque o medo de te perder me deixa sério
Não pego tua mão por medo de nunca mais querer largar, te trago solidão pra você sentir minha ausência.
Não vou ao teu encontro, nem te ligo nem te escolto, te quero livre como eu.
Sou babaca e fraco e magro e pobre, odeio pentes, que roubam o lugar de tuas mãos em meu cabelo
Fumo e bebo demais pra disfarçar que só tenho olhado em você
Mato aula, fujo de casa e gasto grana, mas nada a toa, tudo pra ir te ver.
Gosto de cinema obscuro feito teu olhar, música estranha feito tua voz, livro de poema pra te recitar aquele que fiz um dia falando que é de outro autor.
E você nem sabe que o pouco que te amo é o maior amor que eu poderia e que eu pude aqueles dias
E você nem sabe que tudo se foi, deslizou como seus lábios ainda deslizam nos meus, mas sem a parte do pra sempre.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Palavras

Eu gosto de palavras que me falem
Sem que eu as leia
Palavras que derretam quando pronunciadas
Que se auto interpretem e emocionem
Palavras que descrevam exatamente
Palavras que entrem em minha mente
E que ao lê-las, sejam como músicas.
E que elas saibam o que se sente
E que sejam lindas e únicas
Que em piadas, façam rir.
Em crônicas divirtam
Em contos entretam
Em poemas de amor, emocionem.
Em cartas, as novidades.
Na música, se façam cantar.
Que os olhos as leiam empolgados
Os ouvidos as ouçam curiosos
E que se deixem os legados
E que se ocupem os ociosos
E também os outros de sua leitura
E de sua escrita, e de sua melodia.
De sua cultura
De sua beleza sadia
De noite nas histórias pra criança dormir
E também durante o dia

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Pessoa Caótica!!

Aconteceram coisas...Então desconfiei que sou uma pessoa caótica, essa palavra me ilustra.
Explicarei:

Me ligaram, disseram ter que falar comigo, e que viriam aqui no dia seguinte:
Telefone toca:
-Alô?
-Oi, tenho que falar com você, amanhã vou aí.
-Mas me conte agora.
-Não posso, amanha irei aí e conto.

Devo dizer que essa noite não pude pregar os olhos.
Imaginei toda e qualquer hipótese negativa e absurda que pude. Minhas entranhas se reviravam e refletiam minha ansiedade, que quase me sufocava durante a madrugada misteriosa...Todo o tipo de mistério sempre me torturou.
Fato é que o dia seguinte chegou junto com um Sol e uma brisa inquieta, cheiro de pão novo, e de café fresco...Pássaros cantavam e o vizinho ao lado assoviava na sacada. Todos esses resquícios de um dia nascendo e essa sensação cínica de paz me estressou ainda mais, olheiras e irritabilidade nítidas.
Que hora do dia viria aquela pessoa pra findar minha angústia?

Algumas hipóteses que imaginei:
Alguém sofrera um acidente ou tinha uma doença fatal.
Alguém falara mal de mim, e eu perderia a amizade de pessoas importantes.
Alguém teria fotos comprometedoras minhas e me faria chantagem (Que fotos? Se nada faço de comprometedor?).
Alguém cometeu suicídio, foi assassinado?
Os E.T’s estão prestes a dominar o planeta?
A minha vida é filmada, inclusive meus momentos mais íntimos e inconfessáveis?
Enfim, entre outras hipóteses, essas eram as menos absurdas.

Não quero nem gosto de levantar cedo, fico ouvindo o assobio do vizinho, que com certeza faz parte da conspiração... Alias, todos fazem...Até minha gata...Esse miado dela nada tem de inocente. Está tentando me avisar.
Será que no fundo eu também faço? É isso? Até eu estou contra mim?

Enfim, ligo o som. Ouço o rangido do portão, alguém sobe os degraus, entra no corredor abre a porta...Aguardo ansioso querendo ver a pessoa que me salvaria.
A pessoa entra no apartamento ao lado.

Bem mais tarde chega quem eu tanto esperei. Já estava febril de tanta curiosidade, minhas mãos tremiam e eu estava facilmente irritável, qualquer gesto ou barulho me causava um ódio mortal do responsável.
Ouço passos, um por um, logo adentra meu quarto, com uma cara cinicamente calma:

-Olá, tudo bem?
(Como tudo bem, esperei-te o dia todo pra saber o que tramaste contra mim).
-Tudo bem sim, e você?
(Beijos falsos no rosto, falsos da minha parte, de ódio).
-Lembra que liguei ontem, e tinha algo pra te dizer?
-Não me lembro. Sério que ligastes? (Oh céus, perdi uma noite de sono e um dia de vida pensando nisso).
-Lembro-me bem, fale logo!

Alternativa 1:

-Lembra-se do pé de tomate que plantei no quintal de casa?
-Sim, estava contigo quando plantastes (O que acontecera? Teria o tomate criado vida?).
- É, então, ele apodreceu e nem chegou a dar tomates.
-Hã, era isso?
-Sim, não podia falar ao telefone, pois meu crédito estava acabando.
-Ahhhhhhhh...(cometo homicídio com requintes de crueldade)

Alternativa 2

-Vim o caminho todo tentando lembrar o que era, simplesmente me fugiu da mente.
-Hã?Você esqueceu o que era?
-Sim, simplesmente me esqueci, ah nem devia ser importante mesmo.
- (morro)


Alternativa 3

-Pois é, mostrei aquele trabalho seu pra direção da empresa, eles gostaram e você começa quando quiser, o salário é ótimo.
-Mas isso é... É...BOM.

Sou uma pessoa caótica.

Pré, ou pós algo muito sério.

Isso aqui tá complexo
A noite é uma mansão
E o dia não tem nexo
À noite moro nos meus sonhos
De dia a luz me cobra sentido
A noite é uma verdade
O dia, uma falsidade.
Meu medo noturno me inspira
Como queres ser real, se foges da única realidade?
A dor é real, o beijo com sangue é real.
Pelas ruas possuídas de noite eu caminho
Prédios antigos e escuros
Passados, presentes e futuros.
Meus olhos refletem um medo seguro
Minha saúde está no escuro
Só isso é real, nascer pra morrer.
Sentir amores e dores
Só os pecados são humanos, o resto é fantasia.
Todos têm medo de amar, se entregar.
Amo a noite e fujo do escuro pra disfarçar
Ninguém é perfeito, e ninguém é tão imperfeito como eu.
Todo mundo erra, eu já nasci um erro.
A noite é minha borracha, me apaga, me engole em sua densidade gelada.
O cemitério me aguarda, uma fogueira na inquisição.
Um monstro me persegue, e eu sou um engano.
Sou um rascunho, fizeram, amassaram e eu criei vida.
Alguém me cuspiu no mundo, e como todo líquido estou evaporando.
Poluindo o ar com minhas partículas podres
Se uma chuva ácida cair, são as nuvens me expulsando delas.

My blood is a poison
My skin burn my soul
My life is my sin.

What a Wonderful World (?)

Que mundo é esse, no qual crianças escrevem cartas ao Papai Noel pedindo comida?
Que mundo é esse no qual políticos indignos recebem super salários e querem aumentá-los?
Mundo louco no qual pessoas morrem de fome, no qual velhinhos se cobrem com papelão nas noites de frio.
Mundo que mata seus habitantes na guerra, ao mando de homens poderosos.
Homens esses, que mandam seus semelhantes se matarem em nome de um Deus que não quer nenhum sacrifício.
Onde crianças não estudam, trabalham como escravos, e pessoas quando adoecem não tem dinheiro pra comprar remédio.
Mundo em que destruímos nossa natureza, não amamos os outros animais, não respeitamos as diferenças de nossos irmãos.
Mundo esse, no qual eu vivo, enquanto alguns vão cear fartamente no Natal, outros vão continuar revirando os lixos, em busca de uma ceia que ao menos os mantenha vivos.
E já que essas pessoas estão nesse mundo assustador, não seria justo que elas ao menos pudessem se manter vivas?
Mundo, no qual os mesmos políticos que recebem salários monstruosos não estarão satisfeitos com isso, e desviarão verbas de coisas vitais como saúde, educação e alimentação, roubarão de nós, que pagamos impostos, e também dos que não pagam, por que alguns não podem pagar nem o pão de cada dia.
Mas os políticos vão roubar mais um pouco, afinal vão acabar sem punição mesmo.Mas se seus filhos estiverem morrendo de fome em seus braços não roube um litro de leite, nem um pote de margarina, por que irá apodrecer na cadeia, e se eles estiverem doentes não vá até um hospital, pois não será atendido, por falta de leito, ou de médicos.
Mundo no qual as crianças que não forem apadrinhadas no projeto do jornal, receberão uma resposta de satisfação, mas eles não querem uma resposta, não fizeram pergunta alguma querem apenas uma bola, uma boneca, uma roupa, não precisa ser nada eletrônico, até um pião os deixaria felizes, e quem sabe um almoço garantido.
Mundo no qual eu vivo, que eu temo, no qual a violência lidera, e o poder corrompe, no qual vamos destruindo-nos uns aos outros.
O que acontecerá quando não restar povo pra esses políticos governarem? Logo, iremos padecer no esquecimento ao qual fomos condenados, ao desdém daqueles que deveriam proteger a Nação e o Planeta, mas e aí quem eles irão governar? Quem irão extorquir com sua ganância sem fim?
O rugido desse mundo monstro nada mais é que o grito de dor dos doentes, o ronco no estômago dos famintos, as bombas devastando vidas, armas disparando contra seus entes que voltam do trabalho, e o uníssono das metralhadoras cuspindo o ódio do homem, como dragões capitalistas, sentenciando a raça humana, e por fim, a enxurrada de lágrimas derramadas por nossas dolorosas perdas, não materiais, já que não temos nada assim, mas perdas de nossos entes, de nossas vidas, da nossa dignidade e do brilho em nosso olhar.
Nesse mundo, se continuar assim, as crianças vão descobrir cedo demais que Papai Noel não existe e destruído o sonho e a ilusão de uma criança, morre também o futuro adulto que nela habitaria.
Destruindo precocemente a criança, morre também a esperança de um mundo menos carrasco e mais justo, com um abismo menor entre pobres e ricos.