quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Agora que ela atravessava aquelas luzes com o olhar, quase podia entender que era sua vista que estava embaçada, não as janelas, impecavelmente limpas pelo trapezista do andaime.
Não mais se deixou amortecer culpando a terceiros, nem últimos, pôde sentir a leve dor - e incômodo - toda vez que engolia a seco toda verdade ricocheteada no peito.
Percebeu e aceitou que seu destino nunca fora tão alto como adorava supor. Não havia nada pra entender nos tantos livros que lera, as águas que sugara em bocas alheias evaporaram, tão quente era sua sede.
Aqueles alguéns eram realmente tão vermes como ela afirmara pra si mesma e até pra eles? Todos que deixara pra trás em sua ânsia de...de...do que mesmo tivera ânsia?
Ou pensava assim pra diminuir a culpa, que lhe torturava de forma mansa, sem que ela pudesse notar.
De lá de cima olhou ao chão e viu, minúsculos, os vermes todos, e percebeu:

Quando eles olham pra cima me veêm também do tamanho de um verme!

Decidiu solenemente que o era (verme), e foi se juntar aos outros em pedaços, caminhou, olhou, se atirou.
Nunca saberemos se deu adeus ao trapezista no caminho, mas saberemos que se tornou verme graças a ele. Agora estava no chão, morta, e ele, lá em cima, voava, e desembaçava os vidros, pra que outros pudessem notar quão vermes eram.

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