segunda-feira, 14 de junho de 2010

Da Feia Beleza Imperfeita.

Essa pessoas que possuem tamanha beleza e parecem não saber (ou não se importar).

E (quase, no medo de generalizar) todo grande escritor é triste, pensa demais, ouve demais, lê demais, mata o sexo ou o vive de forma tão intensa que morre por ele!! (?). E quase sempre fala dos cinzeiros lotados de bitucas, frágeis metáforas de si mesmo, tão queimado de dores (de amores, e ódios, inventados ou reais), que chega ao fim, logo ali no filtro, o contraditório filtro, cuja função seria impedir que passassem as impurezas, impurezas, essas, que chegam impunes ao pulmão, e fica só o filtro ali, apagado, o toco, a escória. E quase sempre fala dos copos espalhados - pelo - chão - do - apartamento, copos que mesmo lavados cheiram a álcool, do úisque da noite passada, do vinho que engana o tesão (e fortalece - o também), " das bebidas mais fortes", e as agulhas, das dores agudas, da vitrola que rolava os "blues mais lentos", ou da heroína ( sempre me perguntei a quem ela salvou pra se chamar assim) e, assim como ela outros "venenos mais lentos", e as marcas redondas que encardem a mesa, das xícaras com os "cafés mais amargos", de uma ou outra lágrima, que feito tinta em almofada de carimbo, se espalha impiedosa formando imagem nenhuma, por mais que se observe, nem os cavalos brancos raivosos e magoados de Napoleão cavalgam ali, nada, nada que faça sentir de novo alguma coisa.
E quase sempre, se fala em solidão, ou em alguma visão, ou alguma outra coisa qualquer que descamba em algum final louco que só os semelhantes entenderão ou fingirão que entendem, disfarçando assim sua pequenez diante dessa dor que é tão alheia a si e seu mundo cheio de sucos de açaí e banquinhos coloridos e borboletas coladas a parede e um relógio cuco que sempre sai de sua casinha imitando uma foda ao contrário, penetrando o ar de dentro pra fora. E quase sempre tanto narcisismo, supondo subliminarmente, ou descaradamente que é superior (e geralmente o é).E tanto cheiros, e tantos gostos, e tantos corpos espalhados pelas camas em lençóis sujos e molhados de suor, com hálito de "acordei agora e estou de ressaca", cabelos amassados e uma baba seca no canto da boca ou no travesseiro, toda a roupa jogada no chão, mas a meia imponente nos pés, intocada, imaculada, virgem que é, na sua condição de camisinha de pano, de um falo que nunca desvirgina ninguém mais sexy que um tênis all star, com a sola furada, que dá pra sentir o chão, e roçar libidinosamente em sua superfície quase sempre dura e fria, mas também quente no asfalto em um meio dia ensolarado, enfim, tudo tem a ver com sexo, tão Freud, e tão inconscientemente presente (de grego algumas vezes), passado, e futuro. E quase sempre se fala da realidade pq gosta de falar de si, e é mais difícil pq sabe-se que é verdade, e por isso intenso.
Essas pessoas que possuem tamanha beleza e parecem não saber (ou não se importar), gosto delas, gosto do jeito que andam, como se a cabeça pesasse, do desleixar (?) diário, das caras engraçadas e caretas para o mundo, do jeito como se isolam, e de como se autodestroem, enquanto constroem.

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