segunda-feira, 17 de novembro de 2014


e se eu não tivesse ficado com pena quando me contaram o que acontece com homens assim na cadeia e tivesse denunciado ao menos?
e se abuso de menor não fosse melhor aceito do que lesbianidade?
e se tivessem prestado atenção em TODOS os sinais que eu dei de que eu precisava de ajuda médica?
e se em vez de me apontarem como preguiçosa, desajustada, bêbada, o desgosto dos desgostos, tivessem entendido que eu tô quebrada por dentro?
e se ele entendesse o quanto eu o amava, e gostava de pentear o cabelo dele quando ele chegava do trabalho?
e se ele entendesse a minha culpa de criança de 8 anos, quando de saudade corri e o abracei furando o saquinho de leite, bem na época que eles estavam sem grana, e quase não tinha o que comer?
e se os prestígios que ele me levava significassem amor sincero?
e se tivessem percebido que eu era diferente quando chorei por dias, aos 8 anos, porque peguei o vidrinho de Rarical que minha mãe tinha comprado pra mim, e deixei ele vazar da caixa e quebrar, sendo que ela não tinha dinheiro pra comprar outro?
e se quando eu fiz a poesia pra minha mãe ela não tivesse dito "você copiou de algum lugar né? tá muito bonito pra ser seu"
e se eu parasse de culpar o mundo por eu ser um fracasso?
e se eu não fosse um fracasso?
e se eu ainda conseguisse derramar sequer uma lágrima por mim, sendo que quando é sobre mim meus olhos se secam, e quando eu vejo propagando de suco eu choro rios?
e se? e se tudo parasse agora? ou se eu conseguisse fazer algo certo uma vez na vida?
e se eu voltasse a conseguir comer prestígio?
e se um dia eu tivesse algum prestígio?
quem eu seria? seria tudo diferente? ou eu só sou assim mesmo, toda quebrada?

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